Favelas cariocas - parte 1

Author: Maria Helena Salomon

Favela Vila Canoas, São Conrado. Vista, a partir da Estrada das Canoas, dos acessos à habitações ajustadas no terreno em declive. Foto da autora, 2006

Resumo:

Esta narrativa sobre as favelas cariocas foi construída a partir da interpretação de mapas da cidade do Rio de Janeiro, correlacionando com documentos e outras fontes escritas que informam sobre as condições habitacionais de parcela significativa da população ao longo da evolução urbana.

São Diogo

A área de observação, parte do antigo Mangue de São Diogo, Freguesia de Santa Rita, foi beneficiada com aterros e arruamentos entre 1809 e 1816. Nela se localizavam várias chácaras.

Uma sequência de pequenos morros separava a estreita faixa das praias da baia da área plana, interna, onde a cidade se desenvolveu. 

Planta base: Planta da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, 1808 [Biblioteca Nacional (Brasil)]

A área se transforma, após a vinda da Família Real, em 1808, com a instalação de um quartel, ex sede do Ministério da Guerra e atual Palácio Duque de Caxias. Foram abertas de algumas vias: Rua do Príncipe (dos Cajueiros) e Rua da Princesa (dos Cajueiros), atuais ruas Senador Pompeu e Barão de São Félix, respectivamente.

Planta base: Ludwig, Pedro. Guia e Plano da cidade do Rio de Janeiro, 1858 [Biblioteca Nacional (Brasil) ]

Pedreira dos Cajueiros, Augusto Malta, Acervo do AGCRJ. Publicado em: FOTOGRAFIAS DO RIO DE ONTEM. Coleção Memórias do Rio 7. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1976 (?), 1935
Pedreira de São Diogo e dos Cajueiros

Na área de rocha da encosta sul do Morro do Livramento surgiram algumas pedreiras.

A histórica pedreira de São Diogo, rocha gnais perfiroide – imensa, envolta em lendas, começou a ser explorada industrialmente no século XVIII .”(...) [de lá]“saíram pedras lisas de palmo e meio e em quadra, com as quais se calçaram pela primeira vez, aperfeiçoadamente, as ruas principais da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (GONÇALVES, 2004, p.304).

Na imagem de 1935, a Pedreira dos Cajueiros. No mapa, a Rua dos Cajueiros assinalada no Plan of the city of Rio de Janeiro: Brazil, elaborada por Edward Gotto, 1866 [Biblioteca Nacional (Brasil) ]

Estação D. Pedro II, Holland, 1930. Publicado em: VILHENA, Bernardo. Estácio Vidas e Obras. Rio de Janeiro, Editora Azougue, 2014
Modernização da cidade e expansão urbana

No final do século XIX a cidade se moderniza com aporte de serviços públicos entre outros: iluminação a gás, transporte coletivo de trens e abastecimento d’água e de esgoto (1862) aqui representado no Plan of the city of Rio de Janeiro: Brazil, elaborada por Edward Gotto, 1866 [Biblioteca Nacional (Brasil) ]

A Estação da Corte (1858), posteriormente denominada Estação Dom Pedro II, foi demolida em 1930 para dar lugar para a atual Estação Central do Brasil e (...) transformou-se no principal instrumento de expansão da cidade para a área norte e mantém esta centralidade até hoje. (RODRIGUES, A., p.84)

Moradia e trabalho, que até então compartilhavam o mesmo espaço constituído - casa térreas e sobrados -, começaram a se distanciar. E, para alojar o grande número de trabalhadores atraídos para a área central, surgiram as habitações coletivas, baratas, denominadas de estalagens, casas de cômodos e cortiços.

Caixa do Livramento. Foto Marc Ferrez. Disponível em: http://www.inepac.rj.gov.br/application/assets/img/site/15_fichalivramento.pdf
O reservatório do Livramento

Na Planta da cidade do Rio de Janeiro e de uma parte dos subúrbios, elaborada por E. de Maschek, c. 1890 [Arquivo Nacional], vemos representado o Reservatório do Livramento, construído em 1882, atualmente desativado. 

A partir de 1865, data da construção do Reservatório do Carioca, foram construídos alguns reservatórios para abastecimento de água da cidade. Localizados principalmente na vertente norte da (atual) Floresta da Tijuca e no alto das elevações, recebiam água de nascentes próximas ou da adutora de São Pedro, em Tinguá (Nova Iguaçú).

Fonte: https://diariodorio.com/roberto-anderson-e-os-reservatorios-historicos-na-privatizacao/

MALTA, Augusto, 1908. Estalagem localizada na Rua dos Inválidos. Acervo Museu da Imagem e do Som.
Estalagens, casas de cômodos e cortiços

Na segunda metade do século XIX, sucediam-se denúncias de medicos higienistas, os relatórios de engenheiros sanitaristas, os pareceres de comissões de notáveis, e os editoriais da imprensa apontando para as péssimas condições físicas das moradias, para a degradação da saúde da população residente e para a aglomeração, a promiscuidade e a depravação moral que as acompanhavam. (VAZ, 202, p.33)

Nesta planta, organizada pelo Instituto Sanitário Federal, são assinalados os locais onde foram registrados casos de febre amarela.

Planta base: Cartograma da Febre Amarela (durante o ano de 1895) na Cidade do Rio de Janeiro, Regasoli, J. C. 1890 [Geography and Map Division, Library of Congress, Washington, D.C.]

Tendo como base a numeração dos edifícios na planta de Edward Gotto (1866) podemos associar tais marcações (pontos no mapa) à tipologia da habitação coletiva registrada no "Relatório de revisão da numeração da cidade" empreendida por João Curvello Cavalcanti entre 1873 e 1876, publicado em 1877.

Planta base: Cartograma da Febre Amarela (durante o ano de 1895) na Cidade do Rio de Janeiro, Regasoli, J. C. 1890 [Geography and Map Division, Library of Congress, Washington, D.C.]

CAVALVANTI, João Curvello , 1877, Relatório de revisão da numeração da cidade, 1976 [1877]
Rua de São Diogo

Antigamente chamou-se Rua de São Diogo até a cancela da estrada de ferro (...) em 28/01/1870, deu-se a atual denominação para comemorar os feitos do General Pedra contra o governo do Paraguai.

Na coluna "observações" lê-se:

  • número 9: Sobrado e 19 quartos;
  • número 51: Térreo e 37 ditos (habitações);
  • número 57: Sobrado e 2 ditos (habitações);
  • número 63: Térreo e 30 ditos (habitações)
Rua General Caldwell

A Rua General Caldwell recebeu esta nomenclatura em 1873. Antes, Rua Formosa.

(...) em Maio do ano passado pediu ela o fechamento da estalagem da rua do General Cadwell nº 89 pelas suas péssimas condições de instalação e por se terem dado ali, em épocas epidêmicas, casos de varíola e de febre amarela. FonteAGCRJ - SÉRIE - BRRJAGCRJ.CI.HAB (1890-1892)

https://www.ifch.unicamp.br/cecult/mapas/corticos/hig_rformosa89.pdf

Na coluna "observações" lê-se:

  • número 175 a 183: Sobrado e portão para estalagem e 21 quartos
Rua de São Lourenço

Na coluna "observações" lê-se:

número 15 A: térreo e 28 quartos

número 21 A: Térreo e entrada para 51 quartos

Rua do Visconde de Itauna

Rua do Visconde de Itauna, a partir de 1874. Antes, Rua do Sabão da Cidade Nova

Na coluna "observações" lê-se:

número 87 a 91: Sobrado e 82 quartos em um só prédio 

Rua Barão de São Félix

Rua Barão de São Félix partir de 1877. Antes, Rua da Princesa

Na coluna "observações" lê-se para o número 154 - Cabeça de Porco:

  • Térreo com 49 quartos
  • Sobrado e 9 quartos
  • Térreo e 8 quartos
  • Térreo e 23 ditos (habitações)
Revista Ilustrada, n 656, fevereiro de 1893
Túnel João Ricardo e o Cabeça de Porco

A Rua de Santa Ana foi prolongada a partir da Rua da Princesa para acesso ao Túnel João Ricardo (concluído em 1922), ligando à Gamboa.

A proposta de construção de um túnel, ligando a Central do Brasil com a Zona Portuária, foi um pretexto para a demolição. Conhecido como “Cabeça de Porco”, abrigava cerca de 4.000 pessoas.

Em pleno domínio da República, novembro de 1891, o Sr. Dr. Carlos Sampaio propôs ao Ministério do Interior prolongar a rua Dr. João Ricardo por meio de um túnel, destruindo o famigerado cortiço, levantando ali novas habitações com as necessárias condições de higiênicas e executando outros melhoramentos.

Gazeta de Notícias. Ano XIX, 27/01/1893, edição n 26. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=103730_03&Pesq=dr.jo%c3%a3o%20ricardo&pagfis=7497

Planta base: Planta da Cidade do Rio de Janeiro e Subúrbios. Greiner, Ulrik
1900 [Library of Congress, Washington, D.C. ]

O túnel João Ricardo em obras, tendo em segundo plano, os fundos das edificações da Ladeira do Barroso., c. 1920
Nasce a Favella

Alguns [autores] estabelecem uma relação direta entre o "Cabeça de Porco" e o desenvolvimento inicial do morro da Providência, depois conhecido como morro da Favella. Isto porque, antes da chegada dos soldados de Canudos, e durante a destruição do maior cortiço do Rio de Janeiro, o prefeito Barata havia permitido a retirada de madeiras que poderiam ser aproveitadas em outras construções. Alguns moradores teriam então subido o morro por detrás da estalagem. Em: VALLADARES, Licia. a Gênese da favela carioca

https://doi.org/10.1590/S0102-69092000000300001 

Planta base: Planta da Cidade do Rio de Janeiro e Subúrbios. Greiner, Ulrik 1900 [Library of Congress, Washington, D.C. ]

A ocupação se expandiu em 1897, com o retorno de combatentes da Guerra de Canudos (1896-1897). Parte da tropa reclamava o pagamento de soldos se instalaram na encosta do morro, que fica atrás do prédio que abrigava o Ministério da Guerra. 

Os soldados também passaram a chamar o novo arraial de Morro da Favela, fazendo assim uma analogia com os morros que circundavam Canudos e que eram repletos de árvores espinhentas, conhecidas no nordeste pelo nome de “favelas”. 

Planta base: A Cidade do Rio de Janeiro nos princípios do século XX após a reforma Pereira Passos. Barreiros, Eduardo Canabrava. 1903 [Fondren Library, Rice University]

Recorte da Planta da cidade do Rio de Janeiro (folha 21), 1935
Rua Doutor João Ricardo

Localização original do Cabeça de porco e a indicação do Túnel João Ricardo, executado no prolongamento Rua de Sant´Anna foi prolongada a partir da Rua da Princesa e concluído em 1922.

Planta base: Planta da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria de Viação, Trabalho e Obras Públicas. 1928 [Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro]
 

A representação da favela nos mapas

Observa-se nesta planta cartográfica na escala 1:2000, elaborada a partir do mosaico fotográfico de 1928, construções ajustadas às linhas de cota do Morro da Providência. Secretaria de Viação, Trabalho e Obras Públicas, 1928 [Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro]

Morro da Favela., Augusto Malta,, Museu da Imagem e do Som, 22/08/1920
A precariedade da ocupação
Vista do alto do Morro da Providência em direção sul
Do alto se vê a cidade

à esquerda: MALTA, A. Encosta do morro da Favela ocupada por casebres até as linhas da Estrada de Ferro Central do Brasil. 22/08/1920. Museu da Imagem e do Som

à direita: foto da autora de 2013

A favela vai abaixo

A insegurança em relação à permanência da população no local – remoção ou até demolição do morro da Providência – foi assunto de crônicas nos jornais e de um samba composto em 1927 pelo carioca José Barbosa da Silva, conhecido como Sinhô (1888-1930), e lançada no ano seguinte pelo cantor Francisco Alves (1898-1952).

Nesta gravação, de 2013, a música é cantada por Luiz Henrique

Minha cabocla, a Favela vai abaixo
Quanta saudade tu terás deste torrão
Da casinha pequenina de madeira
que nos enche de carinho o coração

Que saudades ao nos lembrarmos das promessas
que fizemos constantemente na capela
Pra que Deus nunca deixe de olhar
por nós da malandragem e pelo morro da Favela
Vê agora a ingratidão da humanidade
O poder da flor sumítica, amarela
quem sem brilho vive pela cidade
impondo o desabrigo ao nosso povo da Favela

Minha cabocla, a Favela vai abaixo
Ajunta os troço, vamo embora pro Bangú
Buraco Quente, adeus pra sempre meu Buraco
Eu só te esqueço no buraco do Caju

Isto deve ser despeito dessa gente
porque o samba não se passa para ela
Porque lá o luar é diferente
Não é como o luar que se vê desta Favela
No Estácio, Querosene ou no Salgueiro
meu mulato não te espero na janela
Vou morar na Cidade Nova
pra voltar meu coração para o morro da Favela

A Igreja Nossa Senhora da Penha, erguida no início do século XX. , Foto da autora, 2013
Invisibilidade da favela

Segue longo período de invisibilidade da favela - na cartografia e nas bases de dados.

"(...) a importância da habitação como tema da agenda política, especialmente após 1930, não refletiu na seleção de informações estatísticas reunidas nos anuários". LIMA, Nisia Trindade Lima. Habitação e Infraestrutura Urbana. in: IBGE - Estatísticas do Século XX, 2006. Dispon em https://seculoxx.ibge.gov.br/publicacao

Planta base: 1941 [Geography and Map Division, Library of Congress, Washington, D.C. ]
 

frames capturados do curta-metragem "Pedreira de São Diogo", de Leon Hirszman, 1962
Pedreira de São Diogo

A pedreira de São Diogo continuou em atividade até 1966 quando a atividade foi proibida nas áreas urbanas. Neste ano, um grave deslizamento causou a morte de 45 moradores e mil famílias ficaram desabrigadas, segundo notícia no jornal Correio da Manhã de 05/01/1966.

"Pedreira de São Diogo" é uma curta-metragem e faz parte da coletânea Cinco Vezes Favela, de 1962. 

Filmado em 35mm, em P&B, tem 18 minutos de duração.

Direção de Leon Hirszman, argumento de Leon Hirszman e Flávio Migliaccio, fotografia de Özen Sermet; montagem de Nelson Pereira dos Santos. 

Sinopse: Homens trabalham numa pedreira na beira de um morro onde fica uma favela, da qual são moradores. A encosta é explodida, avançando ao terreno próximo dos barracos. Os favelados são avisados de que novas explosões podem causar danos. A comunidade resolve se colocar na encosta, impossibilitando nova explosão; sem atitude, o encarregado desiste de explodir o morro.

Fonte: http://bases.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILMOGRAFIA&lang=P&nextAction=search&exprSearch=ID=002163%5Ey002158&format=detailed.pft

Planta cadastral da cidade do Rio de Janeiro, 1975. Folha 287 A-IV-3.
Década de 1960 - remoção e invisibilidade das favelas

A Planta cadastral da cidade do Rio de Janeiro, elaborada a partir do levantamento aerofotogramétrico realizado em 1975, omite as construções que ocupavam encostas e morros desde o final do século XIX. Nem mesmo a mais antiga delas, no morro da Providência, é nominada no mapa.

"Ruas perigosas". Gloria Maria, 15 anos, E.M. Min Edgar Romero, 8º série. In: VOGEL, Arno. "Como as crianças veem a cidade". Rio de Janeiro: Pallas: Flacso: UNICEF, 1995
A segregação sócio-espacial

As associações de moradores assumem o papel delimitador do espaço geográfico e das reivindicações nas favelas. Nesta representação, Goria Maria, de 15 anos, moradora do Morro da Providência, assinala as ruas perigosa no entorno onde vive. 

Ser morador significa partlhar com os demais moradores não só um recorte físico do espaço urbano, com suas virtudes e defeitos, mas todo um modo de vida. (VOGUEL, p.106)

O reconhecimento do Morro da Providência

A favela Morro da Providência foi declarada área de Especial Interesse Social em 2003 e teve seus logradouros reconhecidos em 2013.

A população no ano 2000 era de 3.443; em 2012, 4.094 habitantes em 1.237 domicílios segundo o censo do IBGE nos anos de 200 e 2010, respectivamente.

Imagem do Sistema de Assentamentos de Baixa Renda – Sabren. Disponível em: https://pcrj.maps.arcgis.com/apps/MapJournal/index.html?appid=4df92f92f1ef4d21aa77892acb358540

frame capturado do curta-metragem "Pedreira de São Diogo", de Leon Hirszman
Referências

70 anos UERJ: 150-2019 / Luís Reznik. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2019

CAVALCANTI, J. Curvello. Nova Numeração dos Prédios da Cidade do Rio de Janeiro (1878). Coleção Memória do Rio. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1979

GONÇALVES, Aureliano Restier. Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro: Terras e fatos. Secretaria Municipal das Culturas, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2004. Disponível em 

SILVA, Maria Lais Pereira da. Favelas Cariocas, 1930-1964. Rio de Janeiro : Contraponto, 2005

Morro da Providência: Memória da Favella. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Ewsportes, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, 1992

RODRIGUES, Antonio Edmilson Martins. A costura da cidade. Rio de Janeiro, Bazar do Tempo, 2016

VAZ, Lilian Fessler. Modernidade e Moradia – habitação coletiva no Rio de Janeiro séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: 7Letras, 2002

Vogel, Arno. Como as crianças veem a cidade. Rio de Janeiro: Pallas: Flacso: UNICEF, 1995

Favela do Esqueleto, [s/autor, s/data]. Acervo Núcleo de Memória, Informação e Documentação - MID/Rede Sirius - UERJ
Segunda parte (em construção)

A primeira parte da narrativa teve como tema, os eventos sociais ocorridos entre a segunda metade do século XIX e a primeira do século XX, e rebatidos na franja da área central, sobre uma forma de habitação na cidade do Rio de Janeiro, a favela, de origem provisória e promovida pelos próprios moradores.

O combate às primeiras formas de habitação dos mais pobres pelas condições insalubres – relacionadas às doenças notificadas nestes locais – encontrou justificativa no argumento da renda da terra e embelezamento da cidade, tema da segunda parte da narrativa.

Na favela do Esqueleto, moradores construíram casas ao redor de uma estrutura abandonada desde 1930 e que abrigaria o Hospital-Escola da Universidade do Brasil, atual UFRJ.  Aos poucos, a ocupação se espalhou por outras partes do terreno, compondo um conjunto complexo, que incluía apartamentos improvisados na estrutura abandonada, casas de alvenaria, barracos de madeira e palafitas sobre o Rio dos Cachorros, um afluente do Rio Joana. (70 anos UERJ, p. 180)

"Moradores dos barracos incendiados na Favela do Esqueleto foram removidos, ontem, para Vila Kennedy" BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Arquivo Nacional. Fundo Correio da Manhã, BR_RJANRIO_PH_0_fot_00236_d0010de0019.

A imagem, de autoria de Gilberto Pimentel e publicada no jornal Correio da Manhã do dia 21/09/1965, ilustra uma das matérias publicadas sobre o incêndio ocorrido na favela do Esqueleto, que foi alvo de investigação policial. Apesar da reinvidicação dos moradores pela permanência no local, 3.081 famílias foram removidas para Vila Kennedy.

Com apoio americano (Aliança para o progresso) e sob o comando de Carlos Lacerda, então governador do Estado da Guanabara, várias favelas foram removidas das regiões centrais para conjuntos habitacionais afastados da cidade - longe dos locais de trabalho e acesso a serviços. Entre eles, Vila Kennedy e Vila Aliança, ambos localizados no bairro de Bangu, zona oeste da cidade.

É sobre a ocupação do espaço urbano, deslocamentos (remoções), disputas e reconhecimento do uso do solo que será tratado na segunda parte da narrativa.