Memória das Demolições: Antigos lugares na Av. Presidente Vargas

Author: Naylor Vilas Boas

Essa narrativa procura situar Av. Presidente Vargas no contexto histórico do desenvolvimento urbano do centro do Rio e revelar os lugares e edifícios perdidos com a sua demolição. 

http://www.airpano.com/360photo/Rio-de-Janeiro-Brazil/, 2021
Antes de tudo, uma reflexão...

As cidades que habitamos vão se formando ao longo do tempo a partir de decisões passadas que as definem hoje em dia. Muitas vezes se transformam lentamente mas, em tantas outras, se transformam subitamente. O certo é que todos os elementos que vemos hoje em dia: ruas, prédios, monumentos, chegaram até nós através dos tempos. Herdamos as cidades daqueles que as transformaram no passado. Como herdeiros que somos, precisamos conhecer o que era, para melhor construir o vir a ser.

Naturalmente, nesse contínuo processo de transformação, as perdas são inevitáveis. Muitas vezes na História, a própria escolha do que vai ficar em pé e o que vai ser demolido foi uma atitude política que ajudou a definir a própria identidade e a memória de muitos países. Isso continua acontecendo hoje em dia, pois é da própria natureza das cidades se transformarem continuamente. Tomemos como exemplo a última grande transformação urbana realizada no centro do Rio: a revitalização da área portuária para os Olimpíadas de 2016 e a polêmica demolição do Elevado da Perimetral, do qual nada sobrou de lembrança.

Podemos nos perguntar: considerando que o elevado marcou uma época de desenvolvimento da cidade, será que deveria ser lembrado de alguma forma na paisagem urbana? Porque ele deve ser esquecido? Só porque era "feio"? E porque outros edifícios devem ser preservados?

Porque, no final das contas, alguns merecem a memória e outros o esquecimento?

Avenida Presidente Vargas, Naylor Vilas Boas, Google Maps, 2021
Uma avenida, muitas histórias

Tais reflexões nos trazem à famosa Avenida Presidente Vargas, uma das principais vias da cidade, responsável pela ligação entre a área central e a zona norte. É difícil não perceber sua monumentalidade, seus vastos espaços, o trânsito sempre presente - na verdade, a razão de sua existência - e a comprida perspectiva formada pelos enormes paredões de prédios. Um verdadeiro vale artificial urbano que, por um lado se estende ao infinito e, por outro, termina na Igreja da Candelária... que está de costas!

Começo da Av. Presidente Vargas e os fundos da Igreja da Candelária, Naylor Vilas Boas, Google, 2021
Estranhas relações

Em nosso tempo, a Igreja se localiza ao lado dessa pequena praça marcada em amarelo no mapa, no início da avenida. Só que nem sempre foi assim. Ela é mais antiga que a avenida, foi inagurada em 1811, o que explica porque dá as costas para ela, que foi construída somente na década de 1940. No lugar da avenida, existia uma cidade compacta, formada por ruas estreitas, sobrados, largos e praças.

Seja como for, essa relação atual, um pouco estranha, é um claro exemplo de como os diferentes tempos podem se encontrar na cidade. Esse é um tema importante para a Arquitetura e para o Urbanismo: entender como o novo pode dialogar e se relacionar em harmonia com o antigo.

Às vezes esses diálogos são bem sucedidos e geram espaços urbanos que mantém a sua identidade histórica e, ao mesmo tempo, adquirem uma outra identidade no presente, e se apresentam como espaços plenos, democráticos e cheios de vitalidade. Em outros casos, tal como esse, os diferentes tempos da cidade não se encaixam tão bem e geram essas dissonâncias, essas "notas fora do tom" na grande sinfonia que são as cidades.

De qualquer modo, precisamos voltar no tempo para entender as origens mais remotas da Av. Presidente Vargas e, principalmente, redescobrir através destas camadas, os interessantes lugares que ali existiam antes dela.

O centro da cidade hoje é assim

Quando afastamos o mapa, dois elementos se destacam, principalmente: além da grande avenida que atravessa os quarteirões da cidade, vemos também uma área verde - um parque conhecido como Campo de Santana. O lugar onde está esse parque sempre foi um espaço livre na cidade e marcou, por muito tempo, um de seus limites.

No século XIX, o Campo de Santana foi transformado em um parque pelo paisagista francês Auguste Glaziou que, apesar da nacionalidade, projetava seus jardins à "moda inglesa ou romântica", onde a sinuosidade dos caminhos e a imitação da natureza, como grutas e rios artificiais, eram típicos desta época.

Mas em 1790 era assim...

Muito antes da abertura da avenida, a Rua de São Pedro e a Rua do Sabão, entre outras, definiam um eixo que apontava para as áreas do interior do território, passando por um grande espaço aberto conhecido como Campo de Santana.

Para além dele, o Caminho das Lanternas ligava esse núcleo urbano original às áreas rurais da região conhecida hoje como a Grande Tijuca - incluindo São Cristóvão, o bairro da nobreza por todo o século XIX.

Limites do Rio antigo

Por quase três séculos, boa parte da cidade do Rio de Janeiro foi deste tamanho. Seus limites eram claros: além do Campo de Santana, também delimitavam a cidade quatro morros cujas histórias estão intimamente ligadas com a própria história da cidade desde os tempos mais remotos: os morros da Conceição, São Bento, Santo Antônio e Castelo.

Rua do Jogo da Bola. Naylor Vilas Boas, 2011.
O Morro da Conceição

Ao lado da atual Praça Mauá, uma das antigas "portas de entrada" onde os navios atracavam, o Morro da Conceição atualmente é um agradável lugar no centro da cidade, onde os moradores formam uma forte identidade comunitária. Lá também é o local da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, construída no início do século XVIII.

Em 2005, a cineasta Cristina Grumbach realizou o documentário "Morro da Conceição", onde entrevista muitos antigos moradores, conseguindo capturar com muita sensibilidade o amor deles por seu lugar na cidade.

O filme pode ser visto no link abaixo (copie e cole no seu navegador):

https://www.youtube.com/watch?v=LbGoGICpmuE

Mosteiro de São Bento.
O Morro de São Bento

Como o próprio nome diz, o Morro de São Bento originalmente foi doado à ordem religiosa dos Beneditinos, onde edificaram um mosteiro e uma igreja que até hoje são um dos grandes patrimônios arquitetônicos do Rio de Janeiro, construídos a partir do final do século XVII.

Juntamente com esse conjunto religioso, o morro de São Bento também é o local de um colégio, um dos mais tradicionais da cidade.

Dois aspectos do Morro de Santo Antônio. Naylor Vilas Boas, 2015.
O Morro de Santo Antônio

Desde as origens da cidade, lá se instalaram os religiosos que ergueram, no final do século XVII, o convento de Santo Antônio e a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penintência.

Desde meados do século XIX já se planejava o seu arrasamento, o que acabou acontecendo na década de 1950. Uma das grandes transformações do século XX no centro da cidade, o arrasamento do morro permitiu a abertura de duas grandes avenidas - Chile e Paraguai e, na década de 1970, a construção de grandes edifícios ligados à administração federal, como as sedes da Petrobras e do BNDES.

Felizmente, o conjunto histórico foi preservado da demolição e hoje é um elemento muito importante na constituição  da identidade do centro da cidade, formando uma acrópole religiosa monumental sobre o a paisagem do Largo da Carioca.

Ruínas do portão do Forte de São Januário, Augusto Malta,, Instituto Moreira Sales., c. 1910.
O Morro do Castelo

Finalmente... o Morro do Castelo, que tem muita história para contar. Principalmente por ter sido o berço da cidade, o primeiro local ocupado no território ainda natural da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Apesar disso, o morro foi demolido às vésperas do centenário da Independência, em 1922. Sua demolição é carregada de significados históricos, e deixou cicatrizes que até hoje não foram curadas na memória da cidade. 

No morro moravam cerca de 4.000 pessoas. Pequenos comerciantes, funcionários públicos, lavadeiras, muitas crianças, que brincavam entre cachorros e cabras. Lá existia uma escola, algumas praças, casas pequenas, cortiços. Também lá se situava a igreja do padroeiro da cidade, São Sebastião, muito antiga. As ruínas de um forte português, construído no séc. XVIII para defender a cidade das invasões francesas, além do hospital São Zacharias, originalmente um colégio jesuíta, junto à igreja de Santo Inácio, bem como as ruínas do que seria uma grande catedral, cuja construção foi interrompida na ocasião da expulsão dos jesuítas do Brasil, no final do séc. XVIII. Neste lugar, foi construído posteriormente o observatório, que sinalizava a entrada dos navios na baía.

Demolição do Morro do Castelo. No alto, a Igreja de São Sebastião prestes a desaparecer. Augusto Malta, 1922.
A demolição

Não sem muita polêmica e discussão, onde a imprensa desempenhou um papel importante, tanto no sentido de apoiar a decisão, em sua maioria, mas também em condenar a decisão, o morro foi demolido em 1922, ao mesmo tempo em que ao lado era construída a famosa Exposição do Centenário da Independência.

Nunca dois tempos colidiram tão fortemente na cidade como naquele momento: naquele tempo, para aquelas pessoas, o passado colonial que o morro representava deveria desaparecer para dar lugar ao futuro brilhante anunciado pelas luzes da exposição.

Ao longo da década de 1920, uma série de projetos propuseram diferentes soluções de arruamento, onde quadras, avenidas, ruas e praças previam espaços urbanos monumentais para esta nova área da cidade. Somente no final da década as ideias contidas nos diferentes projetos seriam incorporadas ao plano do urbanista francês Alfred Agache, que não só pensou a área da nova Esplanada do Castelo, como toda a cidade do Rio de Janeiro. No mapa ao lado, vemos as quadras propostas por ele desenhadas no enorme espaço vazio deixado pelo morro.

No entanto, seu projeto foi considerado obsoleto e interrompido logo no início da década de 1930, quando um novo projeto foi proposto, desta vez a partir de conceitos relacionados com uma outra concepção de cidade, de acordo com as ideias do arquiteto e urbanista Le Corbusier.

De qualquer modo, tal embate de ideias gerou na cidade uma área fragmentada e incoerente, um espaço urbano que, de certo modo, não corresponde à importância do lugar ali existia, o lugar onde a cidade nasceu.

Mas essa é uma outra história... 

Parque de diversões em cartão postal da Exposição do Centenário, 1922.
A Exposição do Centenário

De qualquer modo, ao mesmo tempo em que o morro era demolido, ao seu lado acontecia a famosa Exposição do Centenário da Independência do Brasil.

A exposição foi um evento que mobilizou o cotidiano da cidade entre os anos de 1922 e 1923. Contando com a presença de diversos pavilhões estrangeiros e nacionais, bem como uma série de outras atrações, representava simbolicamente, e também na prática, um desejo de modernidade, onde o país procurava mostrar ao mundo não só sua nascente indústria nacional, mas também sua capacidade de derrubar o passado indesejado, representado literalmente pelo morro do Castelo e seus moradores, que aos poucos sumiam da paisagem. 

Segundo nos conta o historiador Carlos Kessel, em seu livro "A Vitrine e o Espelho",

"dia a dia, no movimentado ano de 1922, o Rio de Janeiro assistia ao espetáculo diário do passado representado pelo Castelo se esvaindo em forma de lama pelas mangueiras hidráulicas, enquanto que sobre o aterro resultante tomavam forma os palácios e as avenidas [da exposição]”. 

Av. Presidente Vargas, 1963. Fonte: Arquivo Nacional.
A abertura da Av. Presidente Vargas

Agora que entendemos a maneira como a cidade se organizou, vimos que o eixo na qual a Avenida Presidente Vargas iria se constituir, no início da década de 1940, já conectava o quadrilátero inicial aos territórios mais distantes, originalmente pelo Caminho das Lanternas.

Deste modo, a grande avenida procurava potencializar essa ligação, a partir de uma maneira de pensar a cidade fortemente relacionada com a presença do automóvel, uma lógica conhecida como rodoviarismo. Esta lógica não é exclusiva do Brasil. Faz parte do espírito de uma época, que não só via o automóvel como um símbolo de progresso como também um objeto de desejo.

A partir da lógica do rodoviarismo, vias expressas e elevados (entre nós, o antigo elevado da Perimetral é um outro exemplo) foram construídos em muitas cidades ao longo do séc. XX, destruindo neste processo tecidos urbanos tradicionais, afastando os pedestres do espaço público, criando áreas inóspitas, entre muitos outros problemas para as cidades.

A partir da década de 1970, e com mais intensidade nas últimas décadas, uma outra lógica vem direcionando o desenvolvimento e a recuperação dos espaços urbanos, uma lógica relacionada com a valorização do transporte coletivo, do patrimônio edificado, da ocupação dos espaços públicos pelos pedestres, entre outras iniciativas que procuram recuperar os danos que o rodoviarismo causou nas cidades ao redor do mundo.

Obras de Abertura da Avenida Presidente Vargas, 1942. Fonte: AGCRJ.
A grande demolição

No mapa ao lado, resultado do primeiro levantamento aéreo da cidade, realizado no final da década de 1920 e publicado em 1935, podemos ver como era a cidade alguns anos antes da abertura da grande avenida.

Nesta época, muitas ruas se direcionavam para o interior do território, sendo a principal delas a Av. Marechal Floriano, cujas feições atuais são resultado das intervenções realizadas pelo prefeito Pereira Passos no início do séc. XX. 

Então, no início da década de 1940, no governo de Getúlio Vargas, sob a prefeitura do interventor federal Henrique Dodsworth, um enorme trecho da cidade foi demolido para a abertura da avenida. Comparando no mapa com a Av. Marechal Floriano ao seu lado, e também com a Av. Rio Branco, aberta no início do séc. XX, podemos ter uma noção clara da escala da nova avenida e o tamanho da intervenção sobre o tecido antigo da cidade, que derrubou mais de 500 prédios, muitos deles de grande importância na história da cidade, bem como fez desaparecer largos, praças e outros lugares tradicionais da cidade.

São estes edifícios e lugares que existiam no trecho entre a Igreja da Candelária e o Campo de Santana que iremos conhecer agora...

Marc Ferrez, 1895. Acervo Instituto Moreira Sales.
A Igreja de São Pedro dos Clérigos

Construída em 1733, a igreja barroca tinha a particularidade de apresentar uma planta circular, única na cidade. Tinha uma cúpula marcante na paisagem, ladeada por dua torres que marcavam a esquina das ruas de São Pedro e dos Ourives.

Ironicamente, foi uma das primeiras igrejas a serem tombadas pelo então SPHAN (atual IPHAN), órgão governamental responsável pelo patrimônio histórico, após sua contituição em 1937. Demolida em 1944, várias de suas partes, como ornamentos, estátuas, portais, entre outros, foram espalhadas por outras igrejas e museus do país. 

Igreja e Hospital do Bom Jesus do Calvário, s.d.
A Igreja de Bom Jesus do Calvário

Construída em 1719, a igreja se situava na esquina da rua da Vala (atual rua Uruguaiana) com a rua Bom Jesus do Calvário. Formava um conjunto arquitetônico único com o antigo hospital da Venerável Ordem Terceira do Senhor Bom Jesus do Calvário da Via Sacra. O recuo que os dois edifícios apresentavam em relação à rua definiam uma pequena dilatação do espaço da rua, onde era possível ter uma percepção mais ampla de suas características arquitetônicas.

Largo do Capim. Augusto Malta, s.d.
O Largo do Capim

Originalmente denominado Campo da Forca, o nome deste tradicional largo se modificou algumas vezes ao longo do tempo, sendo muito conhecido também como Largo do Capim, cujo nome derivava das atividades comerciais originais ali realizadas, relacionadas com a venda de capim e forrações para animais. Em meados do séc. XIX passou a se chamar Praça General Osório.

As atividades comerciais sempre definiram fortemente este lugar. A partir de 1913, foi construída uma grande cobertura no local para abrigar o mercado ali instalado, que perdurou até seu desaparecimento em 1943.

Espaço público bem delimitado em seus quatro lados, alguns edifícios comerciais ajudavam a definir sua identidade, como a "Grande Confeitaria e Refinação de Açúcar", edifício branco visto na foto e a famosa "Tendinha Águia de Ouro", vista no lado direito da foto. 

Augusto Malta, s.d. Fonte: Biblioteca Nacional.
A Igreja de N. Sra. da Conceição

Situada no cruzamento entre as ruas da Conceição e Marechal Câmara, a antiga igreja foi construída em 1757 e se situava em um alinhamento rígido com o restante da rua. Tinha uma torre característica que marcava com força sua presença na esquina daquela área da cidade.

Largo de São Domingos. Augusto Malta, 1913. Fonte: Museu da Imagem e do Som..
O Largo e a Igreja de São Domingos

A constituição deste espaço, definido pela presença da igreja, data do início do séc. XVIII, quando foi construído o templo para abrigar a imagem de São Domingos de Gusmão, santo venerado pela comunidade negra. Transferida da Igreja de São Sebastião no Morro do Castelo para a nova igreja dedicada ao santo, inicialmente a implantação se deu em terreno afastado da cidade que, em sua expansão em direção ao interior do território, logo alcançou a área.

Com sua consolidação como espaço público, o Largo de São Domingos se configurou com um espaço popular, associado à presença de pequenos comrciantes e à classe operária da cidade. Segundo Patrícia Pamplona, pesquisadora da Escola de Comunicação da UFRJ,

"Naquele contexto, o largo de São Domingos tornou-se um lugar de frequentes encontros e assembleias de trabalhadores. As associações de sapateiros, canteiros, pintores e costureiras, por exemplo, convocavam reuniões periódicas no largo. Comícios e comemorações do Dia Primeiro de Maio lotavam a praça."

O largo sofreu modificações importantes na na ocasião das reformas urbanas do início do séc. XX na prefeitura de Pereira Passos, que retificou um dos seus lados com a abertura da avenida de mesmo nome, quando também foi retirado um chafariz que existia no local. Até a década de 1940, quando desapareceu com a abertura da Av. Pres. Vargas, o Largo de São Domingos era um espaço característico do centro da cidade, definido pelos sobrados que o delimitavam pos três lados e pela secular igreja que definia sua identidade como espaço urbano.

Conclusão

Nesta viagem pelo tempo e pelo espaço, vimos o quanto as cidades podem se transformar radicalmente, destruindo nestes processos lugares de memória que constituem historicamente parte de sua identidade mais fundamental. Ainda que o centro do Rio de Janeiro tenha sido palco de muitas e profundas transformações ao longo do séc. XX, tais dinâmicas não são exclusivas de nossa cidade. Ocorreram em muitas cidades européias e americanas, resultado das profundas transformações tecnológicas, sociais e intelectuais que marcaram os séculos XIX e XX, resultado, em última instância, das consequências da Revolução Industrial do século XVIII.

Apesar da noção sobre a importância do patrimônio histórico acontecer desde o início do século XIX, nem sempre foram entendidas como parte do desenvolvimento das cidades. Como vimos, tanto na demolição do Morro do Castelo como na abertura da Avenida Pres. Vargas, a presença de importantes edifícios históricos e tradicionais espaços urbanos não foram considerados no momento dessas intervenções, fazendo com que as gerações futuras perdessem para sempre tais referências que constituíram sua cidade.

Atualmente, as cidades são pensadas de maneira distinta. Ainda que seu desenvolvimento seja necessário, intervenções radicais como essas já não são mais opções tão viáveis. Ainda que possam ser feitas, como vimos recentemente com a revitalização da área portuária e a demolição do elevado da Perimetral, atualmente tais intervenções, quando ocorrem, atuam em favor da recuperação dos espaços públicos, do patrimônio histórico e da valorização do pedestre, no sentido da criação de cidades mais humanas e democráticas. Esperemos que essas ideias perdurem e sejam cada vez mais os caminhos de desenvolvimento das cidades.

Só o tempo irá nos dizer.

Bibliografia

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ALVIM, Sandra. Arquitetura Religiosa Colonial no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ; IPHAN, Prefitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1999.

BORDE, Andrea. Avenida Presidente Vargas: narrativas históricas. Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, v. 10, p. 109–132, 2016.

MOTA, Isabela e PAMPLONA, Patricia. Vestígios da paisagem carioca: 50 lugares desaparecidos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Mauad X, 2019.

VILAS BOAS, Naylor. Da abertura da Avenida Central à derrubada do Morro do Castelo: Transformações urbanas na Belle Époque carioca. A Belle Époque Brasileira. Anais...: 1. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL “A BELLE-ÉPOQUE BRASILEIRA”. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2012.

VILAS BOAS, Naylor. A Exposição e o Morro do Castelo: Investigações Digitais sobre a Forma Urbana no Centro do Rio. In: LEVY, R. (Ed.). . 1922/2012 - 90 Anos da Exposição do Centenário. Rio de Janeiro: Casa Doze, 2013.